terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Preparação para o parto, precisa???





Como trabalho preparando casais e mulheres para o parto, achei interessante esse artigo da Vera Iaconelli (Doula, Psicóloga, Mestre em Psicologia pela USP, Psicoterapeuta Corporal. Atualmente é Coordenadora do Instituto Gerar de Psicologia Perinatal, onde desenvolve pesquisa em Psicologia Perinatal e coordena a Clínica Social para gestantes e mãe de bebês.), que responde bem essa pergunta.

O parto é um evento orgânico que qualquer animal pode realizar sem conhecimento prévio, então, para que se preparar? Seria uma boa questão se nós fôssemos apenas animais e não seres humanos. Existe uma parte de nosso cérebro, a parte mais primitiva, que faz com que sejamos completamente aptos a exercer a função capaz de realizar estas funções. No entanto, o homem adquiriu a capacidade de pensar e, aliada a esta, adquiriu a fala e toda construção cultural. A cultura se encarregou de transmitir, de mãe para filha, todo o conhecimento e sabedoria acumulados durante milhares de anos sobre a gestação e o parto. A ciência, por sua vez, contribui para ajudar os casos em que nem tudo dava certo de forma espontânea, bem como conhecendo as questões básicas de higiene e cuidados, muitas vidas têm sido salvas em situações desfavoráveis. No entanto, com as informações e intervenções médicas, a sabedoria popular foi perdendo seu crédito, e tudo o que prezávamos relacionado ao parto natural passou a ser relevado a último plano. Esta perda do conhecimento empírico e a excessiva confiança na ciência levaram a um desequilíbrio no uso do conhecimento sobre a gestação, parto e puerpério. Parece que nós jogamos “o bebê com a água do banho”, como se diz. Atualmente, a tendência mundial é de busca de um diálogo entre estes dois conhecimentos e, principalmente, de um respeito à individualidade da experiência de cada gestante e de cada bebê. Assim, como passamos a levar um estilo de vida sedentário e acreditamos que o especialista sabe mais sobre nós do que nós mesmos, também a gestação e o parto passaram a ser assuntos médicos a serem “resolvidos” no hospital. Os futuros pais, por sua vez, também não sabem onde procurar respaldo, pois seus pais se sentem desautorizados a transmitir sua experiência e tendem a reproduzir informações pseudo-científicas.
        O grupo de gestantes oferece um espaço onde a troca de informações científicas aliadas ao respeito pela experiência única de cada mãe, bem como a preparação física propriamente dita, podem ser aproveitados. Nesse encontro, as futuras mães podem discutir sobre as questões pessoais que, até então, faziam-nas sentirem-se verdadeiras ilhas isoladas. Muitas vezes, a gestante nem sabe o que perguntar a seu médico, não tem consciência sobre seu corpo (que os livros não são capazes de dar) e não têm um espaço para falar de como se sentem em relação à gestação.
        No grupo de gestantes, os pais são convidados a participar na medida de suas possibilidades e desejos, e podem mesmo se tornar acompanhantes qualificados de parto (DOULA). Os resultados são espantosos. A experiência de das à luz fica enriquecida pela consciência que as mães passam a ter e, como fruto disso, temos a prevenção de dificuldades no cuidado com o bebê, amamentação, formação de vínculo e saúde física e psíquica. Hoje em dia, principalmente no Brasil, onde a taxa de cesáreas é reconhecidamente abusiva (em torno de 80%), fica difícil que uma mãe sem preparo tenha chances de reivindicar outro tipo de parto. O medo diante da situação hospitalar associado a doenças, à falta de conhecimentos da parturiente sobre seu corpo, à falta de conhecimentos das pessoas que lidam com a parturiente sobre as peculiaridades psíquicas da situação de parto, às intervenções invasivas, impede que o parto siga seu curso normal. A frustração é de todas as partes, inclusive de muitos médicos que sinceramente gostariam de diminuir esta incidência, mas não sabem como faze-lo, pois a prática obstétrica, na formação destes profissionais, afastou-se do parto natural, dando ênfase ao aspecto cirúrgico. Enfim, a resposta é sim, precisamos, mais do que nunca, de preparação para o parto em três aspectos: físico, emocional e informativo.

E...complementando o texto da Vera, eu escrevi um artigo, já faz um tempinho, que também fala a respeito do tema. Lá vai...

Preparando-se para ser mãe

A gravidez, muito embora seja um fenômeno natural e "corriqueiro", ainda hoje é vivenciada cheia de dúvidas e tabus. Mesmo que programada e desejada, quando confirmada, gera sempre muita insegurança, medo e ansiedade. Esses sentimentos tendem a aumentar pela falta de informação e conscientização por parte do casal envolvido, ocasionando muitas vezes gestações problemáticas, e tendo como conseqüência partos difíceis, cheios de intervenções médico-cirúrgicas, cesarianas desnecessárias, enfim, uma experiência de parto traumática.
O primeiro passo a ser tomado quando se tem por objetivo um bebê, é ter a certeza de que ambos (homem e mulher) gozem de perfeita saúde, física e mental (segundo a Organização Mundial de Saúde, é nesse momento que todos os pré-natais deveriam ser iniciados, ainda a nível de planejamento). Essa é a base para o sucesso. Ansiedades, cobranças, obsessões: JAMAIS!!!!!!
A partir do momento em que uma mulher se vê grávida, além de todas as mudanças físicas pelas quais ela irá passar, haverá uma carga muito grande de alterações psicológicas, sociais e espirituais como inversão social, aumento de responsabilidades, medo do desconhecido, temor ao parto, e muitos outros medos, emoções e sensações que possam surgir no decorrer da gestação.
Diferente do que muitas pessoas pensam, a finalidade dos cursos de preparação para o parto, não é simplesmente a de ensinar a trocar fraldas, ou cuidar do coto umbilical. Isso, qualquer pessoa, independente de sexo, ou nível cultural, pode ensinar sem problemas, pois não requer grandes conhecimentos.
Seu principal objetivo é preparar o casal grávido, física e emocionalmente para vivenciar e participar ativamente de todo o processo que envolve a maternidade. Essa conscientização é feita por uma equipe multiprofissional, atentando aos aspectos físicos da gravidez, amenizando as ansiedades naturais do processo, fornecendo respostas às questões que os assombram, como sexualidade, alimentação, exercícios físicos, álcool, fumo, medicamentos, peso, doenças, exames, preparo para a amamentação, enxoval, parto, pós-parto, dores, a escolha do hospital, os direitos da mulher durante todo o pré-natal e parto, desmistificar mitos e tabus, entre outras, conduzindo a uma experiência gestacional e de parto bem positiva, ocasionando uma queda significativa na depressão puerperal e  sucesso na amamentação.
  Esses cursos de orientação são fornecidos muitas vezes por hospitais, clínicas,  entidades relacionadas ao assunto, ou por Doulas (acompanhantes de parto) com habilitação para tal,  sendo que estas dão continuidade ao trabalho através de apoio físico e emocional à gestante, ou orientando o pai ou acompanhante de como fazê-lo, durante o decorrer do trabalho de parto e parto, estendendo-se ao pós-parto até a formação do vínculo materno-infantil com o estabelecimento da amamentação.
O casal bem informado irá vivenciar esse momento de suas vidas sem medos e tensões, participando mais ativamente desse processo magnífico e sagrado que se chama GESTAÇÃO.

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